As sirenes
abrem o dia pelo ronco matinal
e na
atmosfera sente-se o hálito do fogo,
restos de
cinza trazidos pelo vento,
os teus
olhos cansados de horizontes.
Da vida,
nada há para registar,
apenas a
preocupação dos dias,
a inquieta
certeza de que tudo acabará,
o incêndio
breve do desejo vindo pela manhã.
Bebo um golo
na garrafa vazia do prazer
e embriagado
caminho pelas ruas,
anoto as
casas de comércio, o sentido do trânsito,
alguma dor
que desce pelo corpo
e se perde
no escuro fundo da consciência.
Não há em
mim um jardim de outono,
nem da vida
sei o sentido ou o valor,
ou nítida
função me destinou o ser.
A pálida luz
que antecede o meio-dia
pousa como
uma sombra sobre a avenida.
Passam
mulheres translúcidas e voláteis,
carros de
seda em rodas aveludadas.
Os olhos que
esperam os meus fecham-se,
aspiram
suavemente o ar entorpecido
e abrem-se
para uma luz de água selvagem
que brota furtiva
no fundo negro da colina.
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