quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Poemas do Viandante (359)

Paul Gauguin - Y el oro de sus cuerpos (1901)

359. TODAS ESSAS PERPLEXIDADES TRAZIDAS NO CORPO

Todas essas perplexidades trazidas no corpo,
a angústia fabricada pelo passar das horas,
uma dor estranha ao dobrar da esquina,
os músculos que se deslassam ou os ossos
doridos, ateando pesadelos na noite,
a face entrecortada aberta no salitre da casa.

Sempre que o outono se aproxima, o calor redobra,
desenha matagais em fogo, tragédias luminosas,
abre sulcos na pele e sobressaltos no coração.
São violentos para a tua alma os meses do estio
e nessa violência se despedem e entregam ao ocaso,
o suspiro aberto no peito, as águas que virão.

De olhos abertos, escondes-me o segredo,
a pele lêveda, o desejo insaciável na noite fria.
Dolente, estendes a mão e tocas-me ao de leve.
Um sino dobra no fausto do passado,
desenha uma canção que a vida esquecera
e agora brilha na caruma baça do dia.

Abre o alvoroço  da tua casa à minha mão
e deixa que o vento sossegue o incêndio.
De todas as coisas que nos cabem, a mais difícil
é a verdade do que somos, a luz impiedosa sobre
a cabeça, o lugar onde o esquecimento nasce
e se derrama para nos salvar, náufragos da ilusão.

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