154. RUMOR DA NOITE
o rumor da noite crescia
então o sol chegava
e a porosa madrugada
anunciava sereno o dia
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
153. CADERNO AZUL
o caderno azul
onde guardavas orações
restos de cartas
o espinho de algum amor
soçobrou ao cair da tarde
um raio vindo da planície
tomou-o por dentro
e as palavras
com que falavas a deus
essas linhas de amor esquecido
são agora cinza
na fria luz de janeiro
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
152. ORFEU E EURÍDICE
caminhemos pelo prado
eurídice
o sol a bater na face
o que resta da morte
a arder em silêncio
se a névoa vier
como orfeu
sentar-me-ei por terra
e escutarei o grito
que rouba da minha
a tua mão
caminhemos pelo prado
eurídice
o sol a bater na face
o que resta da morte
a arder em silêncio
se a névoa vier
como orfeu
sentar-me-ei por terra
e escutarei o grito
que rouba da minha
a tua mão
domingo, 23 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
151. CLARIDADE
os dias agora são mais claros
trazem pequenas confidências
envoltas na névoa matinal
trazem um resto de inverno
ninguém o quererá
mais claros são agora os dias
os dias agora são mais claros
trazem pequenas confidências
envoltas na névoa matinal
trazem um resto de inverno
ninguém o quererá
mais claros são agora os dias
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
150. ESPERO
sento-me e espero
a noite a luz
essa voz
o clamor do frio
no deserto
da tarde
espero
sento-me e espero
a noite a luz
essa voz
o clamor do frio
no deserto
da tarde
espero
domingo, 16 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
149. SILÊNCIO
aquela beleza vinha
breve como um incêndio
o vento ardia
e nos campos
a cotovia cantava
no alpendre do silêncio
aquela beleza vinha
breve como um incêndio
o vento ardia
e nos campos
a cotovia cantava
no alpendre do silêncio
sábado, 8 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
148. VER
ali ficava
a ver o mar
a saia a ondular
batida pela areia
por vezes
inclinava-se
tocada pela inocência
outras
dizia algumas palavras
então as ondas adormeciam
na planície azul
onde setembro
se afastava
ali ficava
a ver o mar
a saia a ondular
batida pela areia
por vezes
inclinava-se
tocada pela inocência
outras
dizia algumas palavras
então as ondas adormeciam
na planície azul
onde setembro
se afastava
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
147. SENTADO
todas as tardes
vinhas com prenúncio
de anoitecer
sentado
esperava a água da fonte
um murmúrio no jardim
o vento que soprava
quando queria
todas as tardes
vinhas com prenúncio
de anoitecer
sentado
esperava a água da fonte
um murmúrio no jardim
o vento que soprava
quando queria
domingo, 2 de janeiro de 2011
Poemas do Viandante
146. FLOR
havia entre as flores
uma sem nome
ali abrigava-se
a esperança
se chovia se nevava
se a noite vinha
sobre o dia
era sob ela
que alguém cantava
havia entre as flores
uma sem nome
ali abrigava-se
a esperança
se chovia se nevava
se a noite vinha
sobre o dia
era sob ela
que alguém cantava
sábado, 1 de janeiro de 2011
Deus
Deus. Terrível palavra onde escondemos as nossas cobardias. Máscara onde se ocultam traições. Quando chegará a hora onde o coração puro não precisará de tal palavra? Agora, o viandante virou hereje? Mas não será a maior das heresias fazer de Deus um vocábulo, essa capa onde o coração se dissimula?
Poemas do Viandante
145. ASSOMBRO
não sei do assombro
outra morada
apenas essa
onde te escondes
e chamas pelo meu nome
como se nele
residisse a sombra
ou o fogo que arde
no deserto
ao entardecer
não sei do assombro
outra morada
apenas essa
onde te escondes
e chamas pelo meu nome
como se nele
residisse a sombra
ou o fogo que arde
no deserto
ao entardecer
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Poemas do Viandante
144. OLHAR
pouso a mão
sobre o tampo da mesa
e deixo deslizar pelo pânico
o olhar que se abre
no coração
a terra fria e desolada
queima-me os olhos
e como um grito
que cruza a noite
desagua na folha curva
o rumor da solidão
pouso a mão
sobre o tampo da mesa
e deixo deslizar pelo pânico
o olhar que se abre
no coração
a terra fria e desolada
queima-me os olhos
e como um grito
que cruza a noite
desagua na folha curva
o rumor da solidão
domingo, 19 de dezembro de 2010
Poemas do Viandante
143. INCÊNDIO DE PEDRA
um incêndio de pedra
adormeceu na seda
onde a noite se cobria
um arcanjo cantava
para que do fogo
viesse lento o dia
um incêndio de pedra
adormeceu na seda
onde a noite se cobria
um arcanjo cantava
para que do fogo
viesse lento o dia
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Poemas do Viandante
142. JUSTIÇA
as pétalas de seda
que atiravam sobre quem passava
o som dos tambores ao longe
a promessa nunca paga
do que somos cúmplices
ainda não o sabemos
enumeramos crimes
pétalas caídas
juras por cumprir
quando ele vier
saberemos o que nos cabe
o peso das nuvens
a leve misericórdia
que não merecemos
as pétalas de seda
que atiravam sobre quem passava
o som dos tambores ao longe
a promessa nunca paga
do que somos cúmplices
ainda não o sabemos
enumeramos crimes
pétalas caídas
juras por cumprir
quando ele vier
saberemos o que nos cabe
o peso das nuvens
a leve misericórdia
que não merecemos
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Poemas do Viandante
141. CORAÇÃO
se o coração pulsar
quando vier a noite
e assustado correr
batendo portas
riscando a giz e carvão
paredes ávidas de sinais
se o coração calar
a mágoa dessa ausência
o deserto de minha alma
quando espero e não vens
se assim se calar
ressoará ainda na terra árida
o exausto coração?
se o coração pulsar
quando vier a noite
e assustado correr
batendo portas
riscando a giz e carvão
paredes ávidas de sinais
se o coração calar
a mágoa dessa ausência
o deserto de minha alma
quando espero e não vens
se assim se calar
ressoará ainda na terra árida
o exausto coração?
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Poemas do Viandante
140. AMOR
a prova do amor
a longa noite
onde o corpo arde
e a terra crepita
sob os teus olhos
silenciosos
à luz da cítara
a prova do amor
a longa noite
onde o corpo arde
e a terra crepita
sob os teus olhos
silenciosos
à luz da cítara
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Poemas do Viandante
139. METÁFORAS
tristes e pobres
as metáforas
que me couberam
vieram até mim
e tocaram-me com
os dedos esquálidos
de quem foge
à luz da madrugada
tristes e pobres
as metáforas
que me couberam
vieram até mim
e tocaram-me com
os dedos esquálidos
de quem foge
à luz da madrugada
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Poemas do Viandante
138. AZUL
o azul desprendia-se do céu e
caía em flocos
sobre praças e rios
caía pelos cabelos
de mulheres exaustas
caía nos bosques verdes
de musgos sombrios
o azul que do céu se desprendia
o azul desprendia-se do céu e
caía em flocos
sobre praças e rios
caía pelos cabelos
de mulheres exaustas
caía nos bosques verdes
de musgos sombrios
o azul que do céu se desprendia
sábado, 27 de novembro de 2010
Poemas do Viandante
137. RECOLHIMENTO
recolho-me na tarde
o sol mortiço
ainda lembra o alvoroço
com que os dias grandes
eram recebidos
a luz não mais terminava
a noite hesitava chegar
o véu que da memória vinha
quebrava o embaraço
com que esperava
recolho-me na tarde
o sol mortiço
ainda lembra o alvoroço
com que os dias grandes
eram recebidos
a luz não mais terminava
a noite hesitava chegar
o véu que da memória vinha
quebrava o embaraço
com que esperava
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Poemas do Viandante
136. PALAVRA
essa palavra tão elementar
rio nocturno
a brilhar na distância
que vai do medo
à solidão
com ela falavas
do sofrimento
esse estranho ardor
mais próximo do abandono
mais próximo do verão
ofício de silêncio
no segredo que esconde o
frio fogo do amor
essa palavra tão elementar
rio nocturno
a brilhar na distância
que vai do medo
à solidão
com ela falavas
do sofrimento
esse estranho ardor
mais próximo do abandono
mais próximo do verão
ofício de silêncio
no segredo que esconde o
frio fogo do amor
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Poemas do Viandante
135. FRIO
veio o frio
sobre a distância
que separa
veio cego
e de mão decepada
lança uma chama
de vidro
como se a vida fora
uma rosa esquecida
no coração
da madrugada
veio o frio
sobre a distância
que separa
veio cego
e de mão decepada
lança uma chama
de vidro
como se a vida fora
uma rosa esquecida
no coração
da madrugada
domingo, 21 de novembro de 2010
Cântico
Se um deus em mim um canto rememora
é para que da luz da tarde esqueça
o fulgor insensato, ela o derrama,
e da vida só sombras me devorem.
Canto, sagrado canto, eu te oiço,
quando passam as nuvens frias do céu.
O Verão breve foi e desse Outono
ténue luz desfolhada arde e se vai.
Leve, de mim se afasta, se encobre
na floresta sombria e opaca, o pássaro
que da ventura o nome sempre sabe.
Olho-o. Vendo-me, logo se ergue e voa.
Arrasto pelo chão os dedos feridos,
mas a morte tão longe ainda vem,
mesmo que sobrevenha neste instante,
tão tarde ela será para que a cante.
é para que da luz da tarde esqueça
o fulgor insensato, ela o derrama,
e da vida só sombras me devorem.
Canto, sagrado canto, eu te oiço,
quando passam as nuvens frias do céu.
O Verão breve foi e desse Outono
ténue luz desfolhada arde e se vai.
Leve, de mim se afasta, se encobre
na floresta sombria e opaca, o pássaro
que da ventura o nome sempre sabe.
Olho-o. Vendo-me, logo se ergue e voa.
Arrasto pelo chão os dedos feridos,
mas a morte tão longe ainda vem,
mesmo que sobrevenha neste instante,
tão tarde ela será para que a cante.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Do ponto de partida
Múltiplas são as armadilhas que espreitam o caminho do viandante. Uma das mais obstinadas é a do sentimento de necessidade de um princípio ou ponto de partida. Esse sentimento de necessidade extrema de um princípio seguro obsidia aquele que caminha. Quando se caminha há a estranha sensação de incompletude, de falta, de uma falta originária. A inquietação dissemina-se e o viandante não sabe onde colocar os pés nem qual o lugar que ocupa. Esse sentimento de falta de um princípio toca toda a viagem, fazendo com que ela seja percepcionada como coisa pouco sólida, pois não existe a solidez de um fundamento. Em vez de caminhar, ele fica preso na busca desse princípio originário, desse alicerce sólido que lhe permitiria caminhar com toda a segurança. Mas tudo isto é mera distracção, fuga perante a realidade. E a realidade é crua: não há fundamento, nem ponto de partida, nem solidez ou segurança. A viagem não começou nunca, apenas estamos já nela e não há companhia de seguros que nos assegure um destino ou a tranquilidade da marcha. Há apenas o entregar-se a ela, puro e livre.
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Segurança,
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sábado, 11 de setembro de 2010
Poemas do viandante
133. DESEJO
furtivo
o nome
que empunhas
crua adaga
que te abre o corpo
para o desejo
nem a luz
o apaga
furtivo
o nome
que empunhas
crua adaga
que te abre o corpo
para o desejo
nem a luz
o apaga
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Poemas do viandante
132. DISTÂNCIA
o delicado traço
com que desenhas
a palavra
o âmbar inquieto
que ilumina
o coração
assim nasce
a irremediável
distância
que torna perto
a luz que se abra
na escuridão
o delicado traço
com que desenhas
a palavra
o âmbar inquieto
que ilumina
o coração
assim nasce
a irremediável
distância
que torna perto
a luz que se abra
na escuridão
domingo, 5 de setembro de 2010
Poemas do viandante
131. PROMESSA
até onde chegarão
estas palavras
haverá peso
dentro delas
que as adormeça
ao caminhar
haverá uma promessa
de luz sobre o pântano
a bandeira desfraldada
anuncia o súbito vigor da maré
até onde chegarão
estas palavras
haverá peso
dentro delas
que as adormeça
ao caminhar
haverá uma promessa
de luz sobre o pântano
a bandeira desfraldada
anuncia o súbito vigor da maré
sábado, 4 de setembro de 2010
Poemas do viandante
130. SE…
a margem infestada
de canas
um barco presume
o restolhar das águas
a noite em flocos
de trigo
se tudo ainda cantasse
ou se as rosas abrissem
o dia pelo cheiro
não haveria pó pelo chão
ou um punho cerrado
coberto pelo ouro
sedicioso
dessa boca fechada
sobre a solidão
a margem infestada
de canas
um barco presume
o restolhar das águas
a noite em flocos
de trigo
se tudo ainda cantasse
ou se as rosas abrissem
o dia pelo cheiro
não haveria pó pelo chão
ou um punho cerrado
coberto pelo ouro
sedicioso
dessa boca fechada
sobre a solidão
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Poemas do viandante
129. A CASA
deste-me uma casa
por desabrigo
ali durmo esperando
que portadas
se abram ou fechem
segundo a vontade
de um senhor
sem nome sem lei
velho arconte
do lago e do rio
das flores abraçadas
pelas mãos recalcitrantes
das carpideiras
deste-me uma casa
nela espero
transido de frio
olhos coagulados
espiões sombrios
olham de longe
ou passam velozes
em relâmpagos de cinza
aí pende o relógio
a casa que me deste
deste-me uma casa
por desabrigo
ali durmo esperando
que portadas
se abram ou fechem
segundo a vontade
de um senhor
sem nome sem lei
velho arconte
do lago e do rio
das flores abraçadas
pelas mãos recalcitrantes
das carpideiras
deste-me uma casa
nela espero
transido de frio
olhos coagulados
espiões sombrios
olham de longe
ou passam velozes
em relâmpagos de cinza
aí pende o relógio
a casa que me deste
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