Antonio Pérez Rubio - La aventura de Don Quijote cuando ataca a la procesión de los disciplinantes
Naquele tempo, os publicanos e
os pecadores aproximavam-se de Jesus para O ouvirem. Mas os fariseus e os
doutores da Lei murmuravam entre si, dizendo: «Este acolhe os pecadores e come
com eles.» Jesus propôs-lhes, então, esta parábola: Disse ainda: «Um homem
tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: 'Pai, dá-me a parte dos bens que
me corresponde.' E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o
filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma terra longínqua e por lá esbanjou
tudo quanto possuía, numa vida desregrada. Depois de gastar tudo, houve grande
fome nesse país e ele começou a passar privações. Então, foi colocar-se ao
serviço de um dos habitantes daquela terra, o qual o mandou para os seus campos
guardar porcos. Bem desejava ele encher o estômago com as alfarrobas que os
porcos comiam, mas ninguém lhas dava. E, caindo em si, disse: 'Quantos
jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Levantar-me-ei,
irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já
não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.'
E, levantando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e,
enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de
beijos. O filho disse-lhe: 'Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço
ser chamado teu filho.' Mas o pai disse aos seus servos: 'Trazei depressa a
melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés.
Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos, porque
este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.' E a
festa principiou. Ora, o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao
aproximar-se de casa ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e
perguntou-lhe o que era aquilo. Disse-lhe ele: 'O teu irmão voltou e o teu pai
matou o vitelo gordo, porque chegou são e salvo.' Encolerizado, não queria
entrar; mas o seu pai, saindo, suplicava-lhe que entrasse. Respondendo ao pai,
disse-lhe: 'Há já tantos anos que te sirvo sem nunca transgredir uma ordem tua,
e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos; e agora,
ao chegar esse teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, mataste-lhe o
vitelo gordo.' O pai respondeu-lhe: 'Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o
que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava
morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado.'» (Lucas 15,1-3.11-32) [Comentário de Bento XVI
aqui]
Num mundo como o nosso, onde a questão da justiça distributiva tem um
papel central, esta parábola continua a ter uma força desconcertante. Se
observarmos as teorias rivais sobre a distribuição justa dos bens resultantes
da cooperação social, depressa percebemos que a rivalidade não põe em causa o
essencial. Deve ser dado a cada um aquilo que lhe é devido. Onde não há acordo
é sobre o que se deve a cada um ou o que cada um merece. Os critérios usados
para determinar o direito dos indivíduos não geram consenso e, na verdade, são
formas particulares para justificar as pretensões de cada grupo ou indivíduo.
A parábola inscreve-se na controvérsia com o formalismo religioso farisaico.
O formalismo abandona os homens, abandona aqueles que estão transviados e
perdidos na errância, usa um princípio de segregação que opõe justos e não
justos. A questão central para Cristo, porém, está nos que estão perdidos,
naqueles que não são contados, pelos homens, como pertencentes ao grupo dos
justos. É uma faceta do velho conflito entre sedentários e nómadas. Perante a
lei moral e religiosa, os sedentários – tipificados pelos fariseus – instalam-se
no território da lei, privatizam-no e excluem do território aqueles que chocam
com essa mesma lei. A errância em que estes se encontram – a ideia de pecado
está intimamente ligada à errância – torna-os em nómadas, gente sem território,
gente que se desterritorializa a cada momento. Enquanto nos justos o impulso
vital seca, parece ser transbordante nos nómadas. É a este impulso que Cristo
se dirige, que convoca. É esta convocatória que traz consigo o estranho
princípio de justiça presente na parábola do filho pródigo.
Nele, o princípio de igualdade não é negado mas mostrado nos seus
limites. Isto significa, antes de mais, um reconhecimento de que as várias teorias
sobre a justiça distributiva e o princípio de igualdade possuem apenas um valor
relativo. Esta relatividade não resulta de uma vitória de teorias
individualistas ou socioculturais, mas do confronto com um padrão que
ultrapassa a medida humana. A justeza (mais do que a justiça) do comportamento
do pai perante os dois filhos emana de uma ordem que não é a que provém da
razão calculadora (tipificada pelo filho justo). Implica um elevar-se ao padrão
que faz com que um pai se alegre pelo retorno de um filho perdido na errância.
Provoca os homens a deslocar a sua perspectiva do mundo e do bem e a
aceder a um topos que integre e
ultrapasse as conjecturas sobre a justiça fundada numa visão puramente humana
da razão. O que não deixa nunca de ser chocante para esta e desconcertante para
os homens.
Os altos responsáveis da direita ultra neoliberal que governa a UE deveriam ler este texto...o problema é que, tecnocratas insípidos que são, não o compreenderiam.
ResponderEliminarTalvez o problema delas não seja falta de compreensão, mas falta de vontade para compreender.
EliminarO que é ainda pior. Não sei aonde iremos parar...o que vi ontem ao descer a avenida da Liberdade com milhares e milhares de pessoas foi essencialmente uma profunda tristeza mesclada de uma profunda revolta e uma imensa vontade de lutar. Novos e velhos, gente de todos os quadrantes políticos, gente, gente, gente, tanta gente...uma grande maioria da classe média espezinhada, não vi divisões, nem partidarismos, notava-se uma forte determinação em mostrar que «não estamos aqui por partido algum, somos apenas NÓS.
ResponderEliminarNa verdade, uma certa voz do desespero, como se uma realidade entranha e incompreensível tivesse desabado sobre a cabeça das pessoas. É uma aprendizagem social dolorosa, muito dolorosa, ainda por cima sem consciência do que poderá vir a ser melhor.
EliminarSim, desespero, mas muita determinação em mudar...para melhor, apesar de todas as inumeráveis dificuldades. Chegámos ao ponto de não retorno, como se diz na aviação.
ResponderEliminarTalvez s tenha chegado ao ponto de não retorno, mas isso poderá significar uma coisa muito diferente da expectativa expressa. Há um certo modo de vida e um conjunto de direitos que não voltarão mais. A minha visão do cenário não é particularmente optimista. Tento olhar de forma objectiva e independente, tento perceber as forças em presença, para além das razões morais que assistem às partes. E não vejo uma boa saída. Mas a visão do ser humano é limitada e falível e há razões que a razão desconhece.
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