Paul Gauguin - Y el oro de sus cuerpos (1901)
A espantosa definição paulina do corpo, como «templo do Espírito», opõe-se radicalmente aos esquemas usuais do helenismo. Herdado do pitagorismo, o famoso jogo de palavras sobre o corpo-túmulo (soma/sema) reencontra-se em Platão, impregnado duravelmente toda a mentalidade ocidental, antes e após Cristo. (Christian Belin, Le Corps Pensante - Essai sur la Méditation Chrétienne, p.118)
A visão negativa do corpo, visão tão espalhada na história do Ocidente, é, na sua essência, anticristã e claramente pagã. Mesmo quando é veiculada pela Igreja - e isso acontece muitas e muitas vezes - essa visão não deixa de ser aquilo que é e não deixa de estar em contradição com o próprio cristianismo. Não se trata, no cristianismo originário, de opor o Espírito ao corpo, mas de uma reconciliação entre ambos. A redenção do homem na cruz de Cristo, o tema central do cristianismo, é também a redenção do corpo humano, a ultrapassagem da visão negativa do corpo proveniente de doutrinas como o pitagorismo. A natureza do cristianismo não é a reactividade ao corpo ou à matéria, mas a sua revalorização e salvação. Ora isso implica que o corpo, onde se inclui a sexualidade, deva ser pensado num contexto emancipatório (o que não é sinónimo de libertino) e moderno, pois só assim a definição de Paulo de Tarso continuará, ou tornará, a fazer sentido.
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