Pierre-Albert Marquet - Céu nublado em Hendaya (1926)
É nos dias nublados que melhor se vê, pois essa é a situação que se adequa à nossa condição mortal. As trevas tornam tudo negro e a pura luz cega-nos. O caminho do Viandante é feito de sombras, névoas e neblinas. Aí constatmos que tudo é misterioso e não alimentamos a ilusão que podemos compreender o que se nos apresenta. Houve quem procurasse a clareza e a distinção. O Viandante procura o impreciso e o sombrio.
A sério? Ou é figura de estilo?
ResponderEliminarNo início da modernidade, no século XVII, Descartes procurou, com a luz natural da razão, um conhecimento claro e distinto. Apesar das conquistas da ciência, aprendemos nestes quatro séculos que essa clareza e distinção não nos cabe. Mesmo o conhecimento científico está sujeito a revisões ou a revoluções que põem em causa aquilo que é considerado verdade. Portanto, não se trata de figura de estilo nem de cepticismo, mas apenas de uma constatação sobre a nossa natureza. É no mistério das sombras (onde luz e trevas se misturam) que podemos adivinhar ou sonhar a verdade. O excesso de luz cega-nos.
ResponderEliminarSoa bem, sabe bem ler estas palavras. E faz sentido: o excesso de luz cega, sim.
ResponderEliminarMas entre a imprecisa sombra e o excesso de luz há múltiplas cambiantes e todas muito apelativas (e seguras). Digo eu.
O que há aí são apenas gradações de sombra. Poder-se-á falar de uma cada vez maior, ou menor, claridade, mas nunca a pura transparência. Que sejam apelativas, eu acredito, que sejam seguras, duvido.
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