sábado, 31 de agosto de 2013

A morte da anunciação

Paolo Ricci - Anunciação (1973)

Vivemos num mundo onde, falsamente, se promove o debate como a grande virtude social. No centro dessa virtude, existe uma outra que orgulha muito os seus detentores: o poder argumentativo. Mas se nada de essencial nascer desse debate e se todo o argumentário não passar de um exercício da vaidade humana? Em tempos houve um outro caminho e uma outra virtude. O intermediário - um anjo, um deus, uma ave - anunciava algo aos homens. A virtude residia então na disciplina da escuta. Mas, nos nossos dias, quem aceita uma disciplina, qualquer que ela seja, ou quem está interessado em escutar? 

6 comentários:

  1. certos momentos convidam ao ruído como forma de abafar a brutalidade do silêncio que se adivinha, não o silêncio prenhe de uma anunciação mas o silêncio fétido de uma condenação.
    Houvera anjos e muitos seriam os seus ouvintes mas os anjos quiseram experimentar-se humanos e perderam a possibilidade de sussurrar, ninguém quer escutar anjos uivantes.

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    1. Talvez ninguém queira escutar seja o que for a não ser a si mesmo. Claro que o ninguém é retórico. Ainda há quem se ponha à escuta do anjo, mesmo que seja o terrível anjo da história.

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  2. talvez haja, mas é uma escuta que implica disponibilidade para a dor.

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  3. Com a agravante do argumentatário ser enganador, impante, vazio de respeito.

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