domingo, 11 de agosto de 2013

Simbolizações

Henri Delacroix - Ciprestes em Gagnes (1908)

A imaginação humana possui tal plasticidade que, querendo-o, de qualquer coisa faz símbolo de uma outra. Esta intermutabilidade simbólica das coisas, devido à plasticidade da nossa imaginação, mostra-nos, não nos mostrando, a ligação que, de forma mais ou menos oculta, existe entre toda a realidade. Mostra-nos ainda outra coisa: a construção de um símbolo é também a produção de uma indicação no caminho que o viandante deve percorrer. 

Tomemos os ciprestes como exemplo. Devido à sua presença nos cemitérios, são associados à morte, talvez à indicação do caminho ascendente da alma que, segundo múltiplas tradições, se eleva para os céus. Se olharmos com atenção para um cipreste, se deixarmos a imaginação entrar no livre jogo das associações somos levados a um outro lado. 

O cipreste simboliza o homem naquilo que tem de terreno (as raízes que o prendem à terra), mas ao mesmo tempo revela-lhe as suas aspirações mais elevadas, ao apontar para o alto. No cipreste descubro a radicalidade da pertença à terra e, ao mesmo tempo, o desejo (dado no carácter erecto, viril da árvore) que aspira ao que é elevado. Talvez por isso tenha sido plantado nos cemitérios, mas o que nele se manifesta não é a morte, mas a vida, uma vida desejante, potente, elevada. A vida, aprendemos, é um elevar-se da terra às alturas.

4 comentários:

  1. O símbolo é na verdade esse: dos cemitérios. Por isso em Portugal pouca gente gosta de os ver no jardim o que é uma pena. No entanto esta simbologia parte de um equívoco. Os ciprestes eram plantados ao longo das estradas romanas porque marcavam-nas, e faziam de estacaria ao seu talude. Os romanos tinham também por hábito enterrar os seus mortos ao longo das estradas. Como o cipreste tem raíz funda, não prejudica nem a estrada nem o túmulo. Logo associou-se uma coisa a outra. Eu gosto de imaginar que o cipreste são colunas da abóbada celeste.

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    1. Também acho os ciprestes - e associo-os sempre aos cedros - como uma árvore belíssima, digna dos jardins e dos espaços públicos dedicados aos vivos, como uma metáfora da vida.

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  2. Eu gosto imenso de ciprestes e plantei alguns. São de uma dignidade impressionante e muito elegantes. Gosto de os designar por Cupressus sempervirens. São da família dos cedros, perfumados, a ramagem rendilhada e pesada, companhias perfeitas.

    Ontem, ao fim do dia, fotografei a lua e um dos meus ainda jovens ciprestes e estava com a ideia de colocar a fotografia lá no UJM. Mas depois a disposição levou-me num sentido no qual não cabia a religiosidade da imagem.

    A ver se hoje a consigo mostrar.

    Gostei muito deste seu texto.

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