sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Da dinâmica do desejo

Max Pechstein - Três nus numa paisagem (1912)

Os objectos mundanos que solicitam o nosso desejo têm uma dupla característica. Inscrevem-se sempre numa dada paisagem, que pode atenuar ou intensificar, por vezes até ao paroxismo, o desejo. São múltiplos e, desse modo, estilhaçam a intencionalidade do desejo, solicitado por múltiplos focos desejáveis. Descobrimos assim que, devido à inscrição numa paisagem, não há, no nosso estar no mundo, um desejo puro, mas sempre um desejo revestido pela ambiência. Descobrimos ainda que a multiplicidade dos objectos desejáveis fragmenta o desejo e cinde a vontade. Impuro e fragmentário, o desejo abre em nós uma brecha que a vida parece incapaz de cerzir.

4 comentários:

  1. A multiplicidade dos objectos não só fragmenta o desejo como impossibilita o prazer.

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    1. Talvez, mas a ligação entre desejo e prazer está longe de ser clara e linear.

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  2. O que torna o desejo impuro? A natureza da paisagem onde se inserem? Ou o natural desejo de desejar?

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    1. A paisagem contamina o desejo, dá-lhe um contexto, retira-o da sua pura intenção desejante.

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