quinta-feira, 2 de maio de 2013

O véu da ilusão

Vincent Van Gogh - Salgueiros ao pôr-do-sol (1888)

Há três coisas, efectivamente, que impedem o homem de conhecer Deus de alguma maneira. São, em primeiro lugar, o tempo, em segundo, a corporalidade, em terceiro, a multiplicidade. Enquanto estas três coisas estiverem em mim, Deus não está em mim e não opera verdadeiramente no meu foro íntimo. (Meister Eckhart, Sermões Alemães, XI)

O tempo, a corporalidade (isto é, o espaço) e a multiplicidade de coisas de natureza espácio-temporal surgem, na perspectiva do místico renano medieval, como o véu que impede o contacto directo com a verdadeira realidade. Sublinhe-se que não estamos perante um véu de natureza moral. Aquilo que impede o contacto do homem com o Absoluto não é, em primeiro lugar, uma conduta em desacordo com os princípios morais ou com a lei dada aos homens nos chamados mandamentos divinos. Antes de uma hipotética imoralidade há uma ilusão, ilusão essa que leva os homens a tomar como o efectivamente real a dimensão empírica captada pelos nossos sentidos. O apego ao tempo, ao corpo, à multiplicidade das coisas finitas é problemático porque, ao prender-nos numa ilusão sensorial, nos impede a abertura à verdade. A imoralidade deriva da ilusão e não o contrário. E o carácter problemático de uma conduta imoral reside em que ela reforça o véu de ilusão que cobre o homem e impede que o Absoluto desça nele e opere nele e a partir dele e da sua relatividade.

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