sábado, 11 de maio de 2013

A outra solidão

Alexander Harrison - Solitude (1893)

Para além daquela solidão terrível sentida como abandono, há uma outra que se aventura para lá da terra firme e entra nas águas inquietas e tenebrosas. Perscruta a noite e esquece a segurança. Nessa solidão, o espírito enfrenta o terror trazido pela incerteza e aprende a confiar no porvir. Abrir-se à solidão significa, então, abandonar-se a si mesmo e confiar no espírito que o habita, deixar-se guiar, aprender o sentido da corrente, da sua própria corrente. A solidão é o lugar onde cada um pode encontrar-se consigo mesmo, o sítio da noite escura do espírito. A solidão é o lugar da verdade de si.

2 comentários:

  1. Estar sozinho e sentir solidão são a mesma coisa? Talvez o sejam em termos de semântica, mas olho-os de forma diferente, talvez por erro meu. Sinto a solidão como a abandono a que somos votados ou votamos os outros, independentemente das responsabilidades . Mas o estar sozinho não, é o terreno próprio para a introspecção, para olhar para dentro de si, para, como diz e muito bem, o encontro consigo próprio.
    É só semântica?

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    1. Talvez se possa separar a solidão imposta pela vida e a solidão que foi procurada. No primeiro caso, a pessoa está só mas deseja a companhia; no segundo, a pessoa escolheu a solidão como lugar de encontro consigo, com o Outro e, paradoxalmente, com os outros. Não se trata de se tornar indiferente aos outros, mas de encontrar uma possibilidade de acolhimento autêntico.

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