domingo, 27 de janeiro de 2013

Do abandono

Salvador Tuset - Abandono (1946)

A temática do abandono é das mais dialécticas, pois contém nela uma contradição insanável. A dor de ser abandonado e o sentimento de desamparo crescem na medida em que alguém não se abandonou. Quanto mais centrado em si, quanto mais importância se concede a si mesmo, mais o abandono e o desamparo se tornam dolorosos. Mas como poderá ser tocado pelo abandono e pelo desamparo quem já se abandonou e nada espera?

8 comentários:

  1. Um gosto ter chegado ao seu blogue.
    Este post sobre o abandono gostei muito
    e penso conhecer "bem" o que é o abandono.
    Já me registei.
    Voltarei sempre que possa.
    Saudações
    Irene Alves

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  2. Será que inconscientemente não espera? O ser humano não está preparado para o abandono.
    Se bem que o abandono seja uma cruel realidade, não é por isso que deixa de ser contra natura.

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    1. Sim, nunca estamos preparados para o abandono. Nunca estamos preparados para nos abandonar. Por isso, o aprender a abandonar-se a si mesmo é doloroso, exige uma longa ascese e não há resultados garantidos.

      Não creio que o abandono seja contra natura. O abandono está inscrito na natureza como na sociedade. Quando alguém morre, haverá quem fique abandonado. E a morte de quem nos é próximo é o mais radical dos abandonos possíveis.

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  3. Quem já se abandonou consegue viver?


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    1. Talvez nunca tenha existido ser humano que se tenha abandonado até ao fim, mas talvez a verdade seja outra. Só quem se abandona conseguirá viver plenamente.

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  4. O que é viver plenamente?
    (Homo Viator, não quero que pense que estou a ser impertinente com estas perguntas, a verdade é que estas temáticas me atraem).

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    1. Viver plenamente significa coincidir consigo mesmo, pôr de lado a representação. Por representação entende-se a imagem que se faz de si mesmo. Abandonar a representação, abandonar a imagem (todo o culto de imagens é uma idolatria, claro).

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