James Ensor - O teatro de máscaras (1908)
A máscara não é apenas um instrumento da antiga tradição dramatúrgica grega e do culto de Diónisos, nem um acessório carnavalesco. A máscara é o nosso ser para os outros, a face com que representamos e nos presentamos na vida social. Ela tem, nesta última dimensão, uma função de protecção do sujeito na espaço público aberto. Essa função de protecção torna-se, a breve trecho, uma função de representação. O medo de sermos esmagados pela abertura perante os outros leva-nos à representação. De seguida, passamos a crer que somos aquilo que representamos. A máscara já não é sentida como a protecção de si perante a ameaça do outro mas a nossa verdadeira realidade. Nesse momento, entramos no caminho da mentira a nós mesmos. Uma mentira racional, cada vez mais racional e, por isso, cada vez mais geradora de crença, de uma falsa crença. A aventura do espírito, porém, significa o arrancar da máscara, o parar da representação, a suspensão da mentira a si. A pergunta quem sou eu? não é uma mera questão de retórica inscrita no começo de uma qualquer antropologia filosófica. Ela resulta da perplexidade com que o mascarado descobre, ao arrancar a máscara, que toda a vida mentiu a si mesmo.
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