sexta-feira, 28 de junho de 2013

Poemas do Viandante (423)

Benvenuto Benvenuti - Frate foco (1925)

423. Descrevo a sintaxe do fogo sobre a terra

Descrevo a sintaxe do fogo sobre a terra
e espero a hora em que nasça
uma gramática subtil feita de faúlhas,
os frutos breves da amendoeira,
a velha servidão sob o peso da terra.

Atiro longe o dardo do amor
e ele perde-se enovelado nos ares,
rodopia sob a inclemência solar
e traceja nuvens de cinza no horizonte de água.

A minha casa é feita de pedra e colmo,
e o fogo arde diante da porta.
Sentado, olho as labaredas
e conto os anos inscritos nas velhas árvores,
os troncos fendidos, ramos decepados.

Os fotões iluminam-me a memória
e com as mãos livres desenho o delicado rosto,
soberbo, suave, quase sonoro,
com que um dia te prendeste nos meus dedos.

E tudo em mim canta no prodígio dessa imagem,
a velha maçã que perdeu Adão,
a guerra de Tróia e o cavalo desejado,
e todos aqueles que enlouqueceram junto ao oceano,
presos no fascínio das ondas ao rebentar.

Da pobre janela, oiço o galope do futuro,
chega com as chuvas de Novembro,
coberto de feridas e uma sombra no olhar.
Abre-se numa fortuita constelação de ervas pálidas

e traça um cavalo lívido de fogo
nas paredes exaustas e negras da casa:
relincha, empina-se e parte campo fora,
sem uma morfologia que o classifique
sem um fogo que lhe incendeie de terra o coração.

4 comentários:

  1. O que é extraordinário é alternar os quartetos, com os quintetos. Eu acho que prefiro os quintetos, sobretudo o de Mozart para clarinete.

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    1. Por falar em quintetos, que tal este?

      http://www.youtube.com/watch?v=3zxqpLEQcp0

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