Paul Gauguin - O Cristo amarelo (1889)
A cruz foi um dos símbolos centrais - o mais central de todos eles - do mundo ocidental. Lentamente, porém, a cruz foi desaparecendo do espaço público, foi-se tornando invisível, foi esquecida e, para muitos, tornou-se desconhecida. A cruz é um símbolo muito desagradável, pois recorda aos homens aquilo que eles insistem em não querer ver. Lembra-lhes não apenas a sua condição mortal mas a natureza frágil e finita do seu corpo, de um corpo que é jogado, ao sabor de circunstâncias que ele não controla, entre o prazer e a dor. A cruz remete para a dimensão da dor e isso torna-a, para a consciência alienada dos homens modernos, absolutamente insuportável. O pior, porém, é que a cruz - usada pelos romanos no castigo dos escravos - torna patente a impotência dos homens e o arbítrio dos poderes. Na cruz estão todos os que são destituídos de poder, todos a quem o arbítrio dos poderes distribui sofrimento e injustiça. E é por isso que a cruz se torna invisível e, para muitos dos que lá estão crucificados, insuportável, pois recorda-lhes que a vida é, na verdade uma via crúcis.
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