Há dias, durante uma missa para os jardineiros e pessoal de limpeza do Vaticano, o Papa Francisco pede que todos orem em silêncio, cada um pelo que o seu coração deseja (ver aqui). Francisco, que preside à celebração, levanta-se e vai sentar-se numa das últimas cadeiras. É assim que ele faz a sua oração. Este gesto acorda-se com a exigência dos próprios evangelhos, de o primeiro ser o último, ser o mais humilde dos servidores. Mas, no seu gesto, há mais alguma coisa. Há, em pleno ofício litúrgico, uma suspensão da mediação. O supremo mediador entre Deus e os homens, o sumo pontífice, torna-se o último dos homens.
Olhamos e cada um está confrontado, no silêncio da sua consciência e na imagem dos seus olhos, com o Cristo crucificado. O Papa, em vez de ser a ponte e a sombra, deixa, por um instante, que os crentes se olhem na figura do Cristo. Não há a grandeza do pontífice para ocultar a miséria da cruz, não há a sombra do sacerdote para ofuscar a luz que se abate sobre os fiéis. Não há abandono dos crentes, pois o Papa está com eles, mas uma indicação precisa sobre a importância de cada um ser autónomo e confrontar-se, sem a mediação de uma outra consciência, com a sua crença e o seu destino. Este gesto, aparentemente tão trivial, parece anunciar uma reconciliação do catolicismo com a modernidade e a autonomia da consciência. Francisco não nega a mediação da tradição sacerdotal - seria um protestante -, mas suspende-a, para que a subjectividade de cada um se veja no espelho da cruz.
Que notícia maravilhosa. Não sabia. Gostei imenso de ler o que escreveu.
ResponderEliminarO que eu gosto deste Papa...! Este Jorge Bergoglio quase me faz achar que o catolicismo pode ser uma boa forma de aproximar as pessoas umas das outras, na bondade, na generosidade.
Há em Bergoglio qualquer coisa de retorno ao essencial, uma lufada de ar fresco, uma aproximação aos seres humanos que vivem estes dias de desconsolo.
EliminarCreio que a experiência de viver entre as pessoas, de lhes conhecer os reais anseios e fraquezas, confere ao Papa Francisco uma sensibilidade especial, que lhe permite conduzir com certeza os homens e as mulheres do mundo, ao encontro com Cristo e essência da religião cristã: a congregação e fraternidade.
ResponderEliminarSim, há uma atenção muito viva e real às pessoas enquanto pessoas, e isso está a revelar-se muito positivo. Tocar as pessoas para que estas possam escutar a palavra do Cristo. E nos tempos que correm, isso está longe de ser uma tarefa fácil, se é que alguma vez o foi.
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