Desço do
dorso astuto do passado
e afasto-me
da promessa que o futuro anuncia.
Bastam-me
esta água sobre a areia branca
e os limos
que se enredam nos pés.
Bastam-me os
caminhos rudes na montanha
e uma casa
branca de porta entreaberta.
Aos outros
deixo agora o requiem e a profecia.
Aspiro o ar
fresco nascido na madrugada
e olho o céu
azul na distância inacessível,
maldade ou
capricho dos deuses imortais.
Voo com as
nuvens se elas passam
e escuto o
canto dos pássaros na primavera.
Ser todo e
único em cada momento,
andar de pés
descalços no musgo da floresta,
carregar a
solidão quando estou só
e o vivo
prazer de me perder na tua mão.
Sem passado
nem futuro, sou apenas sombra,
um traço de
luz, o fogo na noite, uma onda.