Todas as
coisas que esquecemos jazem no fundo
que há no
centro do coração, pequeno baluarte
abandonado
às intempéries, ao vento ocioso
que do norte
chega, inunda ruas e traça mapas
de desespero
nos teus olhos cansados de solidão.
Por vezes,
há tumultos nas ruas ornadas de silêncio,
homens
correm no desvario e ouvem-se gritos,
palavras
repetidas como se a língua minguasse
e nada mais
houvesse do que aqueles sons.
Pegas no que
é teu e leva-lo para dentro de ti,
é agora um
segredo, matéria vegetal para combustão,
memória que
busca no futuro o rasto do passado.
Estremeces, se
te olho deste lado do mundo,
e as tuas
mãos tornam-se imprecisas, sombras delidas,
uma chaga tardia
a arder sob o império da noite.
Depois,
olhas o céu e contas angústias e desencantos,
tortuosas estrelas
com que inventas constelações,
uma leitura
da vida, o breve rosário da ressurreição.
Quando chega
o mês de setembro e o verão moribundo
regurgita de
vida, começam contagens e balanços,
exercício
inútil de um deve e haver que corrói a alma,
a inunda de
ferrugem e a abre para a secura do jardim.
A falta de
água trouxe a morte à pequena flora,
inscreveu,
no solo bravio, uma poeira persistente e
infinita, o
traço de um desejo que se extraviou no calor.
Sentas-te
perante o tumulto das ruas e ouves cantar os ralos,
o imperativo
da vida num campo semeado pela morte.