segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Poemas do Viandante (434)

Odilon Redon - Eva

434. Essas mãos que me anoitecem

Essas mãos que me anoitecem
e trazem um raio de luz.
Essa voz que declina em mim
e ergue uma cidade de púrpura.
Essas dores que chamam pelo outono
e são frutos caídos no coração.

Um túnel abre-se sobre o pântano
e no sopro da tua boca nascem aves,
ramos de violetas, um velho castanheiro
cerzido na luz sonâmbula da noite.

Quero dizer o teu nome sobre o meu,
erguer-te do abismo da memória
e deixar cantar na manhã
o rio venerável, o sangue e o vinho,
as primícias de um corpo que se oferece
no altar outonal do coração.

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