Gustav Klimt - Adão e Eva (1905-6)
432. Os cabelos descem-te em fúria pelos ombros
Os cabelos descem-te em fúria pelos ombros
e o silêncio da tarde descai estrangulado pelo corpo:
rumor de folhagem, aroma de neve, água cintilante
sobre o fruto maduro que anuncia o outono.
Abro um livro ao acaso e desfolho-te, a cicatriz
desenha um rio, a fronteira, o alvor da maçã.
A palavra chega, negra e terrível, esboço de geada,
promessa perdida na sombra azul da manhã.
Abres a janela e olhas a névoa sobre os pomares.
Nus, os ombros esperam pelo deslizar da mão.
Ao longe, ouvem-se corvos, o uivo branco do amor.
O teu corpo amanhece no deslumbrado sangue do meu.
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