Miquel Barceló - Chemin de Lumières (1986)
Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. (Lucas 9:3)
Há no texto de Lucas duas condições essenciais para o viandante. A simplicidade e a disponibilidade. Pela simplicidade, o homem despe-se do inútil, assume a sua condição de pobre, vive a pobreza de espírito. Esta simplicidade, contudo, está conjugada com a mais pura disponibilidade. Nada levar para o caminho significa estar disponível para aquilo que o caminho lhe oferecer. Aquele que procura a luz, vai por um caminho de luzes. Não leva lanterna, aguarda que a luz chegue e, como uma graça, caia sobre ele. E enquanto se mantiver disponível, enquanto não se apropriar de nada, caminhará de luz em luz, de claridade em claridade, mesmo que o caminho, muitas vezes, se faça na noite mais escura que possa existir.
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