terça-feira, 17 de setembro de 2013

Da imobilidade na natureza

Karl Schmidt-Rottluff - Natureza-morta no espaço (1950)

A representação imóvel de frutas, flores, utensílios quotidianos, etc. tomou, na História da Pintura, a designação de natureza-morta. O que encontramos, porém, nas representações pictóricas de naturezas-mortas é a suspensão do movimento, a imobilidade, o repouso. O que pode ser inquietante para o espírito é, porém, a suspeita de que esta imobilidade não seja a da morte mas a expressão máxima da vida. Na suspensão do movimento, na mais pura quietude, as coisas dão-se no seu ser. São como os corpos de dois amantes. A verdade do seu amor não reside na dinâmica do jogo sexual mas na imobilidade que os convoca a tal dinâmica, no repouso em que se fundem e se subtraem ao movimento e ao tempo. Na imobilidade das coisas e dos seres encontramos um reflexo da eternidade.

2 comentários:

  1. «... no repouso em que se fundem e se subtraem ao movimento e ao tempo.» Ao tempo; como contagem repartida do espaço; como substância sem corpo mas com presença. Logo, uma representação pictorica de naturezas-mortas, para além da metáfora, penetra fundo a metafísica.
    Será?

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