sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Poemas do Viandante (433)

Pablo Picasso - Dos desnudos y un gato (1902-3)

433. Um rasto de água ardia sobre o corpo

Um rasto de água arde sobre o corpo,
cresce mansamente dentro dos olhos,
salta-me húmido pelos lábios.
Pequeno fruto trazido pela aurora,
um jogo de volúpias azuis ao anoitecer.

Enlouqueço nas trevas, ébrio do teu cheiro,
quando a ausência se desenha
e sinto o estrangulado desejo da rosa,
a fria e frágil flor em que te desfolhas.
Luz, labareda, sangue e fogo.

Um sismo desliza-te pelo ondular do ventre,
se eu chego na lonjura do tempo,
se te cavalgo no cerrado campo do corpo.
Uma silhueta vem na sombra do silêncio:
toca-te os olhos, desce sobre o mar.

4 comentários:

  1. O titulo do quadro, não me parece correcto; é que tanto um como o outro, não se acham despidos... cobrem-nos as vestes do amor...

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  2. Este poema é lindíssimo. Tomei a liberdade de o transcrever no final do post que acabei de publicar. Fico sempre receosa por achar que as minhas palavras e as minhas fotografias possam não ser companhia à altura dos seus poemas mas, ainda assim, arrisco-me.

    Parabéns pela qualidade da sua poesia.

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    1. Não tem de que recear. Pelo contrário, eu é que lhe fico obrigado por tomar poemas meus por companhia.

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