Albert Bloch - Figures in silver light (study) (1943)
A vida é uma luta contra a opacidade, contra a nossa própria opacidade. Na verdade, se meditarmos um pouco, não há ser mais estranho e mais opaco a nós do aquele que diz eu quando falamos. Essa opacidade nasce, em primeiro lugar, da ilusão de que nada nos é mais conhecido do que nós mesmos, como se pelo facto de sermos sujeitos e objectos de conhecimento ao mesmo tempo facilitasse o acesso a esse objecto. Em segundo lugar, esse mesmo facto, o de sermos sujeito e objecto, é produtor de opacidade e de escuridão. Dividimo-nos e tornamo-nos estranhos a nós próprios. Por fim, o acto de dizer eu parece assegurar uma certeza certificada de que sabemos o que estamos a dizer, uma certeza que sabemos quem é esse eu. Ora, o eu é um lugar vazio - o pronome pessoal na primeira pessoa - que qualquer um ocupa quando toma a palavra e, ao calar-se, deixa vazio. Na realidade, não passamos de figuras banhadas por uma luz prateada. Somos opacos a nós mesmos, mas a tonalidade luminosa cria-nos a ilusão da transparência. Mas isso não passa de efeitos especiais.
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