Vincent Van Gogh - Almiar en un día de lluvia (1890)
390. Não há rio que justifique tanta água
Não há rio que justifique tanta água
nem tristeza que acolha tamanha dor.
Tudo se dissolve nestes dias,
a vida como ela foi,
a esperança que a ilusão trazia,
a casa onde a estirpe foi sonhada.
No futuro, tudo será melhor, dizem.
Mas da minha janela só vejo folhas caídas
e nenhuma primavera as trará de volta.
Só vejo luzes amarelas
que iluminam a amargura que escorre do céu
e alaga ruas soturnas e vielas fechadas.
Encosto-me à vidraça e olho a água que cai
e tudo em mim se esvai,
escorre lentamente para o chão,
deixa uma mancha de sombra azul
no lugar branco e calcinado
onde um dia sobre a tua poisei a minha mão.
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