quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Poemas do Viandante (391)

Louis-Welden Hawkins - Procesión de las almas o Navidad, cuadro místico (1893)

391. O sopro silencioso de quem passa

O sopro silencioso de quem passa
e traz uma luz sobre a terra.
O rumor de um olhar na madrugada
e o barqueiro que exausto te espera.
A canção dedilhada num coreto
e o sinal breve que nos escapa.

Se fosse o meu destino ser poeta,
sob os umbrais escreveria
longas cartas de amor,
um tratado sobre a alma
e o texto breve de um epitáfio.

Mas aquele que escreve não tem destino,
mero sopro no silêncio tardio,
rumor de água e sinal de passagem.
De nada lhe vale a memória
nem as preces que ao coração exaltam.
Escreve na vida minguada
e aguarda a noite para que os olhos se fechem.

4 comentários:

  1. Dos mais belos poemas de Homo Viator...cujo destino é ser poeta, sim, caso contrário não faria com que quem anda extraviado e entre vales da sombra da morte aqui voltasse, só por isto. Obrigada.

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  2. Que gratificante é passar por aqui!

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