João Queiroz - Sem título (?) (2005)
278. OS LUGARES ESCALAVRADOS NA ROCHA
os lugares escalavrados na rocha
noites que nunca chegam com o seu manto
veludo negro na melancolia do envelhecimento
campos de pedra e arenitos dispersos
sem cardos ou cactos
o grasnar incerto dos corvos ao meio-dia
de todas as histórias que me contaste
não retive uma
a memória pesa e inclina o corpo para as trevas
acende velas inúteis a santos já mortos
desfigurados no ócio da santidade
uma sina lida à entrada da igreja
o remoer dos intestinos acende uma vela
e a superfície lisa das encostas resplandece
enquanto se ouve ao longe o cacarejo do vento
o troar desabrido dos lábios sobre a pele
não há árvores de fruto ou prados tisnados pela geada
o lugar não se presta ao ofício de cuidar a terra
e as mãos cedem ao cansaço e adormecem
e a noite que nunca chega
para trazer os nomes que te fui dando
nos dias em que cantavas
nas horas submersas na lei do desprezo
trinta dias girou a terra em torno do sol
e as paredes de mármore um sublime grito de guerra
uma oração a um deus desvairado
o anteparo que protegia a terra da fúria oceânica
assim nos protegemos da memória
pequena deusa cruel e vindicativa
assim nos escondemos do punhal enferrujado
pronto para abrir um rio na planície do coração
noites que nunca chegam com o seu manto
veludo negro na melancolia do envelhecimento
campos de pedra e arenitos dispersos
sem cardos ou cactos
o grasnar incerto dos corvos ao meio-dia
de todas as histórias que me contaste
não retive uma
a memória pesa e inclina o corpo para as trevas
acende velas inúteis a santos já mortos
desfigurados no ócio da santidade
uma sina lida à entrada da igreja
o remoer dos intestinos acende uma vela
e a superfície lisa das encostas resplandece
enquanto se ouve ao longe o cacarejo do vento
o troar desabrido dos lábios sobre a pele
não há árvores de fruto ou prados tisnados pela geada
o lugar não se presta ao ofício de cuidar a terra
e as mãos cedem ao cansaço e adormecem
e a noite que nunca chega
para trazer os nomes que te fui dando
nos dias em que cantavas
nas horas submersas na lei do desprezo
trinta dias girou a terra em torno do sol
e as paredes de mármore um sublime grito de guerra
uma oração a um deus desvairado
o anteparo que protegia a terra da fúria oceânica
assim nos protegemos da memória
pequena deusa cruel e vindicativa
assim nos escondemos do punhal enferrujado
pronto para abrir um rio na planície do coração
Belíssimo!
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