Francis Bacon - Study for a Portait of Van Gogh V (1957)
Aquilo que pesa na viagem não é a materialidade do corpo. O grande obstáculo, o que está submetido ao império da gravidade, o que torna o passo mais lento é o peso da sombra. Quanto mais baixo estiver o sol, mais pesada se torna a nossa sombra. Ao nascer, a sombra é apenas uma possibilidade. Ao avançar na vida, a sombra pega-se a nós, cresce desmesuradamente, torna-se opaca, sólida. O pobre viandante está condenado a arrastar atrás de si essa sombra que foi acumulando. Sábio seria o homem que, ao viver, nunca acumulasse sombra, pois caminharia leve e nada o reteria na viagem. Mas nascemos sem sabedoria e, conforme a vida se vai desenrolando, mais longe ficamos dela, até que, vergados ao peso da sombra, ficamos estáticos e entramos no reino das sombras, onde a morte espera silenciosa por nós.
A tal da morte espera sempre por nós.
ResponderEliminarA porção de sombra que cada um transporta também pode ser uma quantidade de histórias, estradas e caminhos, quedas, erros e outras maravilhas. Largar a sombra seria mais tremendo do que carregá-la
Sim, pode ser isso, mas também pode ser a fixação nisso. Mas, claro, largar a sombra é sempre mais tremendo do que carregá-la, mas esse tremendo pode ser a condição para continuar o caminho.
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