João Queiroz - Sem título (2007-2008)
275. O DILACERADO CORPO DA TERRA ABRE-SE
o dilacerado corpo da terra abre-se
um segredo de calcário
os mármores incertos do palácio
agora incêndio nas trevas do olhar
ao subir a encosta escarpada
os dedos rememoram o tempo primitivo
os dias tecidos pelo medo e a fome
o corpo exposto na clareira
ao uivo dos predadores
ao voo rasante das aves migradoras
assim crescem os anos
conto-os no breve rosário de pedra
e desenho calendários de folhas
onde anoto cada dia
o mal que consigo traz
e a esperança sempre perdida
de algum bem
traço uma cruz de carvão na pedra
e oiço o eco solitário de uma voz
o corpo freme
balança-se e na inclinação
entrega-se à dúvida
à imprecisa fronteira
do infinito céu a precária terra separa
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