segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Poemas do Viandante (437)

Ferdinand Hodler - Emoção (1894)

437. O súbito alvor do anjo sobre a terra

O súbito alvor do anjo sobre a terra,
a memória branca descarnada da face,
água tépida onde exausta te olhas.
Figura de cera que jaz dentro de mim,
símbolo de fogo ao raiar do mundo,
a promessa duma vitória já perdida.

Desfolho o calendário e aguardo o dia,
aquela hora em que venhas branca e nupcial
resgatar do sonho o desejo que nele se esconde.
Que nome te darei quando tudo cessar,
e as trevas forem apenas o rumor do incenso,
o desenho enegrecido pela luz bravia do mar?

domingo, 27 de outubro de 2013

Um rasgão no véu

James Ensor - Calvário

Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado. (Lucas 18:14)

Como, numa sociedade como a nossa, poderá ser recebida esta palavra de Lucas? Os tempos modernos têm na sua essência a exaltação do eu. Tudo está organizado para fortalecer e glorificar esse eu exaltado, um eu que, segundo o ethos moderno, deve seguir o seu interesse próprio. A própria medida do comportamento racional é-nos dada pelo acordo da acção com a defesa do interesse próprio. A humilhação do eu é, portanto, um desafio à lógica dos nossos dias, uma proposta que não pode ser olhada a não ser com desdém. Um escândalo, para retomar uma velha palavra. Mas não será o escândalo um rasgão no véu com que a realidade se cobre?

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Haikai do Viandante (164)


Terra, pedra e fungos.
E do velho caos um deus
fez o novo mundo.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O caminho mais rápido

Markus Luepertz - Composición en gris (2001)

Ao pôr-se a caminho, o viandante descobre que bússolas e mapas têm pouco préstimo. Corre o risco de ficar seduzido e começar a coleccionar velhas instrumentos de orientação ou novas cartas. Não quer dizer que, por vezes, não os use, pois têm sempre um efeito benéfico para o espírito. O caminho, porém, só ele o pode descobrir no instante em que, entregue àquilo que o chama, o vai traçando. Alguns têm caminhos rectos, outros oblíquos. Há, no entanto, aqueles para quem a viagem é feita por veredas emaranhadas, becos sem saída, caminhos que levam a lado nenhum.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O lugar abandonado

Carlo Carra - Casa Abandonada (1930)

Talvez os sítios abandonados tenham uma especial atracção sobre aqueles que estão em viagem. Não porque nesses sítios resida ainda um resto do espírito que os animou, mas porque um sítio abandonado simboliza ao mesmo tempo um lugar de acolhimento e a necessidade de continuar a jornada. Uma casa abandonada é um lugar onde se pode pernoitar, mas que na sua precariedade torna claro ao espírito a necessidade de partir.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sociedade e não comunidade

Niels Bjerre - A Prayer Meeting (1896)

Para nós que fomos educados numa cultura católica, este quadro do pintor dinamarquês Niels Bjerre tem qualquer coisa de inusitado. Aquelas pessoas encontram-se para uma oração, mas não estabelecem entre elas nenhum princípio de comunidade. Estão umas junto das outras, mas não estão umas com as outras. Seguem caminhos puramente privados. Mesmo a figura do Cristo na cruz não exerce qualquer poder congregador. No mundo católico, uma oração conjunta estabeleceria uma comunidade, uma comunhão. Se se tratasse de uma oração não comunitária, então o indivíduo oraria em solidão. No quadro de Bjerre, não temos nem comunidade nem solidão, mas uma sociedade de indivíduos privados que, ensimesmados, perseguem os seus interesses salvíficos individuais. O quadro de Bjerre permite-nos perceber muito bem o que é a versão protestante do cristianismo e, a partir dela, perceber a diferença radical que tem do catolicismo.

domingo, 20 de outubro de 2013

Haikai do Viandante (163)


Um sulco de sangue
abre a porta do mistério
que a rocha encerra.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A rosa sem porquê

Agnes Martin - A Rosa (1964)

Die Rose ist ohne warum.
(A rosa é sem porquê.)
Angelus Silesius, CW I. 289

Lê-se o verso de Silesius (o hemistíquo) A rosa é sem porquê e fica-se fascinado. A tentação é de ver um artifício poético, talvez uma aproximação metafórica à sem razão da beleza. Mas devemos ler literalmente o que lá está. É a leitura literal que nos assusta. No verso diz que o porquê ou a razão não fazem parte do ser da rosa. O assustador está na emergência desumanizada da rosa. A razão e os porquês são a presença humana, do entendimento humano, nas coisas, uma forma de as submeter ao nosso espírito e integrá-las numa cadeia de explicações. Mas tudo isso, apesar de nos tranquilizar - pois dar uma razão tranquiliza-nos -, é estranho à rosa. A rosa é sem porquê é uma injunção a estar perto da rosa sem projectar nela os meus temores e, por isso, a minha racionalização. Estou perante aquilo que não posso explicar, que não tem explicação, que se perfila, na sua simplicidade de ser rosa, como um mistério para o qual a minha pobre razão não tem chave. A rosa sem porquê solicita a mais extrema pobreza de espírito.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Um lugar de epifania

Rita Rutkowski - Campo da Verdade (1961)

Nunca se deverá confundir a verdade como adequação das nossas palavras aos factos e a verdade como revelação. O campo da verdade não é o sítio onde alguém profere a verdade. O campo da verdade é o lugar onde a verdade se revela. Onde tem o ser humano o seu campo da verdade? A vida é o campo onde a verdade se manifesta e se manifesta não por palavras mas naquilo que revelamos ao viver. A vida de cada um é sempre, saiba-o ele ou não, um lugar contínuo de epifania. A manifestação daquilo que ele é e do destino que o chama.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Haikai do Viandante (162)


Entre a pedra dura
brota, sob a branca luz,
a vida que cura.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um caminho sem mapa

Frantisek Kupka - Composição em azul (1925)

Não há mapas ou cartas que ajudem o viandante no seu caminho. Na verdade, o caminho de cada homem, mesmo o do mais previsível dos homens, é sempre inédito e nunca cartografado. Por vezes, há viandantes que deixam atrás de si aquilo que parece ser um mapa, que poderá ajudar outros viandantes. Isso, porém, não passa de um equívoco. O que parece um mapa seguro e passível de ser seguido não passa de uma composição, onde alguém deixou o testemunho do caminho que trilhou, caminho esse que, mal foi trilhado, logo deixou de estar disponível. Aquele que quer fazer a viagem para o centro de si mesmo, para o que há de mais oculto e secreto em si, pode ver como os outros compuseram o seu caminho, mas deverá saber que para ele aquela composição é inútil, pois o seu caminho é singular e só por si mesmo pode ser trilhado.

domingo, 13 de outubro de 2013

Folhas mortas

Egon Schiele - Árvores Outonais (1911)

Tudo o que se passa na natureza pode constituir-se em símbolo. Se uma metáfora ou uma metonímia introduzem uma certa equivocidade no discurso e no pensamento vulgares, o símbolo aumenta exponencialmente esse grau de equívoco. Em primeiro lugar, porque os símbolos dão que pensar, convocam o logos, para, logo de seguida, o humilharem, ao tornar evidente a impotência da razão para lidar com eles. Em segundo, dirigem-se à experiência viva do homem, suscitando caminhos, abrindo veredas, estabelecendo inesperadas pontes entre margens que a experiência corrente nunca ligaria. 

Olho as folhas mortas que se desprendem das árvores, quando chega o outono. É o ciclo da vida. Mas se tomar a queda das folhas como símbolo, liberto-me da experiência meramente biológica da morte e renascimento da natureza, para poder entrar no reino do espírito. As folhas das árvores que caem simbolizam tudo o que precisamos de abandonar. As nossas crenças, os nossos desejos, os nossos prazeres, as nossas dores, os nossos objectivos, as nossas ilusões e os nossos sonhos. Tudo isso não passa de folhas mortas. Despidos, entramos no inverno, nessa noite escuro que espera o viandante que caminha para a luz.

sábado, 12 de outubro de 2013

Poemas do Viandante (436)

Ramón Casas Carbó - Flores deshojadas (1894)

436. Toco no orvalho que escondes

Toco no orvalho que escondes
e oiço o murmúrio do mar
sob o império da minha boca.

Um silêncio de azul cobre-te
e em cada mão há uma rosa
que desfolhada me aguarda.

Nestes dias de outono, canto
o teu corpo macerado no amor,
a espera com que te entregas

na noite, perfumada e silenciosa.
Púrpura descida dos céus,
ave de luz canta em mim.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O passeio do viandante

Henri Edmond Delacroix Cross - La Promenade (1897)

Há na viagem momentos de puro passeio. Neles, o viandante medita sobre a própria viagem. De onde veio? Para onde vai? Não se trata, todavia, de fazer a contabilidade e de se certificar daquilo que perdeu e daquilo que ganhou, pois ganhos e perdas permanecem obscuros para o coração dos homens. Também não é o caso de se pensar, como Rousseau, um sonhador solitário. O passeio é o momento em que o viandante se funde mais no caminho e, na sombra dessa fusão, se prepara para prosseguir mais determinado e mais destemido em direcção daquilo que o chama.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Do verdadeiro encontro

Edvard Munch - Meeting (1921)

Os verdadeiros encontros são sempre inesperados, acidentais, filhos do acaso. Mas depois de acontecidos, logo se repara que os regeu não o indeterminismo mas a pura necessidade. Mais uma vez deslizamos na pura contradição. Os verdadeiros encontros preparam-se em nós, sem que saibamos o que está a ser preparado, sem que saibamos o que nos espera, sem que saibamos o que deveríamos sequer esperar e encontrar. Não há nada mais secreto que um verdadeiro encontro, embora não haja nada mais cristalino que os verdadeiros encontros.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Haikai do Viandante (161)


Espuma na areia.
Vento e memória de água
que o Estio incendeia.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

De porto em porto

Terence Cuneo - De Puerto a Puerto

Um porto não é um lugar para permanecer. O viandante chega e, mal põe os pés em terra, logo se prepara para partir. O seu lugar não é a terra firme da certeza, mas o mar revolto e as trevas da noite. Atrás de si apaga-se o rasto e é como nunca houvesse por ali passado.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A música das esferas celestes

Francisco Iturrino - Romaria (1905-1909)

A tradição religiosa ocidental, cujo núcleo é o cristianismo, é atravessada por uma ambiguidade que nos pode deixar perplexos sobre o significado da vida neste mundo. Por um lado, ela é um vale de lágrimas onde os homens suspiram, gemem e choram. Por outro, é uma romaria, onde a peregrinação e a festividade se combinam num arraial em perpétua deslocação. Facilmente se percebe como estas duas concepções reflectem a visão do inferno e a do paraíso celeste. Mas isso é secundário. O essencial é compreender que as visões não devem ser opostas mas vistas como complementares. Sim, a vida pode ser um vale de lágrimas - para muitos, pelo sofrimento recebido, uma antevisão mesmo do inferno - mas aquele que peregrina, que vai na romaria, atravessa esse vale de lágrimas dançando e cantando, pois aquilo que chama por ele e o guia soa-lhe no coração como a mais pura e envolvente música. Provavelmente, a música que o velho Pitágoras dizia provir da revolução das esferas celestes e para a qual o hábito nos tornou surdos.

domingo, 6 de outubro de 2013

Fora do quarto encantado

Carlo Carra - La Camera Incantata (1917)

Muitas vezes a vida espiritual, aquela que se funda na contemplação, é vista, na nossa moderna civilização técnica, como uma fuga mundi, um encerrar-se do self num quarto encantado. Isso, porém, é apenas um desvio à verdadeira vida espiritual, uma fuga não ao mundo mas às injunções do espírito. A vida espiritual exige a plena atenção ao que nos solicita e a pura presença perante o acontecer. Ela só é possível quando se quebra o encantamento que encerra o sujeito no quarto encantado, sem ceder à tentação do activismo, que a mobilização, um dos elementos centrais da nossa civilização, impõe ao homem moderno.

sábado, 5 de outubro de 2013

O acaso e a lei

Jean Arp - Arrangement according to Laws of Chance (1916-17)

Poderemos pensar no acaso ainda uma legalidade? Não será uma contradição falar de leis do acaso? Não será acaso aquilo que se furta a toda a legislação natural? Se olharmos para a natureza, talvez faça sentido negar a relação entre acaso e lei. As leis da natureza explicam a priori o acontecer dos fenómenos naturais. Mas no mundo do espírito são os acasos e os acidentes que desenham a posteriori uma legalidade que o espírito vai descobrindo como a sua lei. Não uma lei dada e pré-determinada, mas uma lei suscitada pelo devir e pelo acontecer. Aquela que o viandante diz: esta é a minha Lei.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Haikai do Viandante (160)

Vittorio Avondo - A Fiumicino (1879)

Velha nostalgia.
Água, barcos, céu de cinza.
Eis que nasce o dia.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sobre o corpo

Umberto Boccioni - Dinamismo del cuerpo humano - Boxeador (1913)

Pela juventude ou pela velhice, pela fraqueza ou pela força, pela doença ou pela saúde, o corpo tem sido sempre um adversário temível e invencível.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Reconstruir a harmonia

Paul Signac - Au temps d'harmonie (1894)

Por que razão o viandante se põe a caminho? Porque uma desarmonia se instalou dentro dele e abriu uma brecha que ameaça tornar-se em abismo. A viagem não é a fuga ao abismo, mas o esforço supremo de o olhar de frente e, esperando uma graça, conseguir unir aquilo que em si se afastou e, desse modo, reconstruir a harmonia que imaginou existir antes que a cisão de si consigo mesmo se instalasse.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Aprender a escutar

Paul Ackerman - Discussão

A discussão e o debate são, por certo, virtudes da vida social e do espaço público. Fazem parte da harmonia social, onde a violência dos actos é substituída pela troca de palavras e ideias. Mas aquilo que é uma virtude social pode transformar-se num obstáculo para aquele que, concedendo ao mundo o que é do mundo, procura um caminho que vá para além dos negócios mundanos. Aqui a discussão perde o sentido e começa a dura disciplina da escuta. Aprender a escutar é então o essencial.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pura presença

Karl Schmidt-Rottluff - Antiguidades (1928)

As tradições espirituais não são colecções de antiguidades, nem o passado aquilo que as determina e, dessa forma, haveria de determinar o viandante. O espírito deve desprender-se da sua fixação no passado - assim como da ânsia do futuro - e abrir-se ao puro acontecimento, à emergência daquilo que é na sua eterna novidade, à pura presença daquilo que o convoca ao caminho.

domingo, 29 de setembro de 2013

Poemas do Viandante (435)

Robert Motherwell - Abierto roto (1974)

435. Este lugar que se abre

este lugar que se abre
no sopro da noite
este vento que rompe
nos dedos da manhã
este vermelho que arde
no sangue do coração

este silêncio que brilha
no fulgor do outono

sábado, 28 de setembro de 2013

Sobre o desencantamento

Luc Tuymans - Desencantamento (1990)

Na sequência do Iluminismo e da análise de Max Weber, foi propagada a ideia de que o desencantamento é o processo que nos leva do mito à razão, que nos conduz de uma vida fundada no encantamento para uma vida organizada segundo processos racionais e burocráticos. Há em tudo isto, contudo, uma certa unilateralidade. O desencantamento que supera a interpretação mítica do mundo não conduz, obrigatoriamente, a uma vida organizada segundo os preceitos de uma racionalidade burocrática e calculadora. A libertação do encantamento mítico pode ser um passo decisivo no confronto consigo e com aquilo que, no mais fundo do espírito do homem, o convoca e lhe dá uma destinação e uma missão a cumprir.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Danças e narrativas

Juan Genovés Candel - Narracíon (1982)

O meu avô estava já paralisado. Um dia pediram-lhe para contar uma história que ele tivesse vivido com o seu mestre. Então ele contou como esse homem santo que era o seu mestre tinha o costume de saltar e dançar quando rezava. E ao contar isto o meu avô levantou-se, e o relato envolveu-o de tal maneira que ele começou a saltar e a dançar para mostrar como o seu mestre fazia. Desde esse instante ficou curado. (Martin Buber, apud José Tolentino Mendonça, Atual do Expresso, 27/09/2013).

Esta singular história que Martin Buber conta do seu avô não serve apenas para sublinhar a extrema importância do acto de contar e ouvir histórias na economia da vida humana. Ela sublinha a natureza profundamente física - corporal - daquilo que se convencionou chamar a experiência espiritual do homem. Saltar e dançar, essas formas de suspensão momentânea da gravidade, implicam uma libertação do corpo daquilo que o prende (literal e metaforicamente à terra) e a sua concentração no acto de orar. Ao saltar e dançar todo o ser se funde numa unicidade e é essa unicidade que opera a relação com o sobre-humano. Tudo isto, porém, está enquadrado num processo de transmissão narrativo. A narrativa tem o poder de desencadear as operações mais fundas e secretas que se escondem no interior do ser humano, aquelas que o podem levar à dança e, como no caso do avô de Buber, à cura.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Haikai do Viandante (159)

Pierre Bonnard - Lumière de soir, près de Vernon (1922)

Esta luz da tarde,
sobre os campos incendiados,
é fogo que arde

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Caminho de luzes

Miquel Barceló - Chemin de Lumières (1986)

Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. (Lucas 9:3)

Há no texto de Lucas duas condições essenciais para o viandante. A simplicidade e a disponibilidade. Pela simplicidade, o homem despe-se do inútil, assume a sua condição de pobre, vive a pobreza de espírito. Esta simplicidade, contudo, está conjugada com a mais pura disponibilidade. Nada levar para o caminho significa estar disponível para aquilo que o caminho lhe oferecer. Aquele que procura a luz, vai por um caminho de luzes. Não leva lanterna, aguarda que a luz chegue e, como uma graça, caia sobre ele. E enquanto se mantiver disponível, enquanto não se apropriar de nada, caminhará de luz em luz, de claridade em claridade, mesmo que o caminho, muitas vezes, se faça na noite mais escura que possa existir.