Niels Bjerre - A Prayer Meeting (1896)
Para nós que fomos educados numa cultura católica, este quadro do pintor dinamarquês Niels Bjerre tem qualquer coisa de inusitado. Aquelas pessoas encontram-se para uma oração, mas não estabelecem entre elas nenhum princípio de comunidade. Estão umas junto das outras, mas não estão umas com as outras. Seguem caminhos puramente privados. Mesmo a figura do Cristo na cruz não exerce qualquer poder congregador. No mundo católico, uma oração conjunta estabeleceria uma comunidade, uma comunhão. Se se tratasse de uma oração não comunitária, então o indivíduo oraria em solidão. No quadro de Bjerre, não temos nem comunidade nem solidão, mas uma sociedade de indivíduos privados que, ensimesmados, perseguem os seus interesses salvíficos individuais. O quadro de Bjerre permite-nos perceber muito bem o que é a versão protestante do cristianismo e, a partir dela, perceber a diferença radical que tem do catolicismo.
Sendo católico, acho injusta e pouco verdadeira esta sua apreciação sobre a versão protestante do cristianismo. Já participei em momentos de oração com protestantes e senti neles uma comunhão que às vezes, demasiadas vezes, não sinto em celebrações católicas.
ResponderEliminarParticipar em momentos de oração em zonas do interior de Portugal, tradicionalmente católico, se for em igrejas de grande dimensão, podem ser de uma secura e frieza assustadoras. Ninguém está com ninguém nem com o próprio celebrante. O desplante é de tal ordem, que uma vez, numa celebração eucarística e festiva com o bispo, havia padres a confessar no meio da assembleia em total desrespeito pelo espírito de comunhão da celebração. Chegava-se a ouvir os pecados dos menos habituados ao sussurro.
Curiosamente sente-se mais essa comunhão nas periferias de Lisboa onde a ida à missa é sentida e é por vontade e não por costume tradicional como no interior.
Talvez a leitura seja pouco adequada a muitas situações, mas julgo que o quadro retrata bem o espírito do subjectivismo protestante fundado na ideia de livre exame. Creio, porém, que terá razão, muita razão mesmo, sobre o que diz de certas práticas católicas, o que significará a erosão do espírito interno do próprio catolicismo, do seu «ethos» mais fundamental.
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