domingo, 6 de outubro de 2013

Fora do quarto encantado

Carlo Carra - La Camera Incantata (1917)

Muitas vezes a vida espiritual, aquela que se funda na contemplação, é vista, na nossa moderna civilização técnica, como uma fuga mundi, um encerrar-se do self num quarto encantado. Isso, porém, é apenas um desvio à verdadeira vida espiritual, uma fuga não ao mundo mas às injunções do espírito. A vida espiritual exige a plena atenção ao que nos solicita e a pura presença perante o acontecer. Ela só é possível quando se quebra o encantamento que encerra o sujeito no quarto encantado, sem ceder à tentação do activismo, que a mobilização, um dos elementos centrais da nossa civilização, impõe ao homem moderno.

2 comentários:

  1. Uma diferença fundamental entre o Cristianismo e o Budismo .
    A não acção também pode ser uma concessão ao mal.
    Ou não?

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    1. Se a não acção for inacção é, claro, uma concessão ao mal. Seria equivalente ao pecar por omissão, embora não goste de usar a palavra pecar, de tão gasta que ela está. Mas a não acção pode ser uma forma superior e mesmo suprema de acção. É o dar a outra face do cristianismo. Foi a resistência passiva de Gandhi.

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