Somos flores
tardias de um jardim exausto
e não há,
nas terras em redor, jardineiro
que de nós,
nestes dias de calor, venha cuidar.
O último
vinha, pé ante pé, negra a sotaina,
regador
vazio, sacho e romba tesoura de poda.
Levou-o o
vento ou um anjo que por aqui houvesse,
levou-o a
pressa da vida, um incêndio no matagal,
levou-o o esquecimento,
um fantasma, a promessa
de um céu
puro sobre praia de areia e azul.
Somos flores
tardias de um mundo acabado,
viemos no
acaso da noite e arpoámos o barco
entre rochas
e cascos velhos apodrecidos.
Um tempo
houve em que as flores vinham
da Grécia,
de Roma, mesmo de Jerusalém.
Frágeis e
vigorosas violetas de tempos rudes,
pequenas
promessas de seda, pontes entre
um passado
nunca esquecido e a luz fugaz
a brilhar no
horizonte que seria o futuro.
Somos flores
tardias de um tempo consumado.
São outros
os jardins e diferentes as flores,
não lhes
faltará o zelo do jardineiro,
nem terra
nova ou estação propícia ao plantio.
Não tragam
água sobre estas pétalas cansadas,
nem deixem o
sol vir sobre o caule estiolado.
Tudo se nos
tornou já um sonho alheio e,
na multidão
que passa, não há um rosto
que sorria
ao lançar os olhos pela terra vazia.