Albano Vitturi - Gli eremiti di Faida (1934)
O triunfo da modernidade sobre o modo de vida medieval manifestou-se também na substituição dos velhos preconceitos por novos. Assim como os medievais não compreendiam os seus preconceitos como preconceitos, também os modernos são incapazes de reconhecer, enquanto tal, os seus. Dois preconceitos tomaram conta da vida dos homens e quase destruíram a herança espiritual do Ocidente.
O primeiro preconceito diz respeito ao desprezo que os modernos patenteiam à vida contemplativa. A modernidade é o triunfo do negócio e a imposição a todos os homens de uma vida activa, de onde a contemplação foi pura e simplesmente banida. Mesmo a vida académica, hipoteticamente herdeira da tradição filosófica grega, uma tradição contemplativa, se tornou em dura actividade, em negócio puro e simples.
O preconceito contra a vida contemplativa acentua-se quando se trata da opção pela solidão. Aquele que se separa dos homens para se confrontar consigo e com o Absoluto tornou-se de tal maneira estranho, que os modernos, presos à acção e ao medo de estar sós, destruíram o desejo e a possibilidade de erguer eremitérios, onde os homens, libertos dos negócios do mundo, possam entregar-se à vida do espírito. Nada mais repelente do que os antigos conventos de contemplativos transformados em edifícios para turistas.
Não se compreende, porém, que o cerne da nossa tradição espiritual reside naquilo que a contemplação permitiu criar, naquilo que, em solidão, homens e mulheres puderam descobrir. A crise do Ocidente não é económica ou política, mas uma crise espiritual, uma crise que nasce do preconceito contra a contemplação e a vida de solidão, que todos os homens deveriam, em certos momentos da sua vida, aceder, confrontando-se consigo, com o seu destino e com aquilo que o Absoluto lhes propõe como caminho.