domingo, 25 de outubro de 2020

A cadeira

Ilse Bing, Chairs with Leaves, Luxembourg Gardens, Paris, 1952

Ela sentava-se nessa cadeira todas as manhãs. Contemplava o jardim durante dez minutos e ia-se embora. Eu observava-a, de longe e fascinado. Um dia não se levantou. Prosseguiu a contemplação. Estranhei, mas tive de sair. Quando voltei, na manhã seguinte, ela aí continuava, imóvel. Aproximei-me e toquei-lhe pela primeira vez. Era mármore do mais puro que já vira. Fiquei desconcertado, mas a sua transformação em estátua eternizava-lhe a beleza. O pior foi o dia em que os serviços camarários descobriram a irregularidade daquela estátua. Quando os funcionários lhe tocaram para a remover, o mármore desfez-se em poeira, e a única mulher que amei foi levada pelo vendaval que se levantou.

Sem comentários:

Enviar um comentário