quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Abrir a janela

Karl Schmidt-Rottluff - A Janela Aberta (1937)

A primeira etapa da viagem termina quando o viandante abre a janela e depara com o vasto mundo. Estranho que uma etapa termine quando ainda não se começou a andar, quando ainda não se saiu de casa. O dramático, porém, é que a generalidade da espécie humana, por muitas milhas que tenha percorrido, nunca sai da sua casa, desse lugar onde tudo se refere a si. Nunca sai de si e dos seus pequenos, por grandes que sejam, interesses. Abrir a janela é então a primeira e decisiva etapa, pois abrir a janela não é outra coisa senão o abrir-se ao acontecer e ao que, no devir, nos chama.

3 comentários:

  1. o próprio abrir da janela, é uma abertura de um "eu" ao mundo, implica uma consciência desse "eu".
    Concordo com a análise.
    No limite diria que somos portadores de um monólogo interior, por vezes conseguimos estar numa posição paralela a outros portadores de monólogos, muito raras vezes dialogamos.

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    1. Sim, tem toda a razão. A generalidade dos diálogos são monólogos a dois.

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  2. Um monólogo a dois...
    Certo dia, sem um porquê claro, achei-me nú em frente a um grande espelho e comecei a observar-me com promenorizada atenção. Começando pelo rosto, percorrendo todo o corpo e terminando nos pés, constatei que somos um, constituído por duas partes quase simétricas coladas uma à outra. Em certos pontos do corpo, notam-se até as marcas dessa colagem, como por exemplo são evidentes ao londo de uma garrafa de vinho, as marcas que denunciam a ligação das duas metadas que saíram do molde. Depois, pensei na minha anatomia interna e voltei a constatar a mesma dualidade que compõe a unidade, quer a nível de órgãos, como de esqueleto. Estas constatações levaram-me a concluir que se a matéria de que somos feito, se compõe de duas partes perfeitamente identificáveis, quase simétricas; faz todo o sentido que a nossa parte espiritual seja igualmente composta de duas partes, quase simétricas, das quais, tal como acontece com a matéria, a mais forte, domina a mais fraca. Por isso, alguns de nós possuem mais força numa das mãos e dos pés, são mais ágeis no raciocínio ou mais sentimentais ou cognitivos, conforme o lado do cérebro mais "forte" e são mais ou menos bons, conforme o lado espiritual predominante. Talvez esta dualidade unificada estimule alguns no sentido de "saltarem" a janela e abraçarem o mundo e a outros, amarre e tolha os movimentos.

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