terça-feira, 16 de julho de 2013

Poemas Viandante (426)

Pablo Picasso - A vida (1903)

426. Um fio que se quebra e abra para a morte

Um fio que se quebra e abre para a morte,
o desejo impossível sobre a varanda,
o rumor de julho na planície incendiada.

A vida chega a arder nos dedos de cristal,
rodopia sob a fadiga do vento,
ri-se desfigurada pela ânsia perpétua.

O silêncio da criança nos braços da mulher,
a memória traçada de fronteiras e rios,
o animal que se inclina e pede água.

Trago no labirinto toda a vida que me foi dada,
olho-a aterrorizado pelo que anoiteceu,
e sento-me escutando o tropel do que há-de vir.

Ó a vida nua, pura, delicada e breve:
ébria, uma erva pende para a terra
e no céu um anjo voa no silêncio eterno.

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