sexta-feira, 5 de julho de 2013

O jockey enquanto figura

Toulouse-Lautrec - The Jockey (1899)

Olhamos o quadro de Toulouse-Lautrec e corremos o risco de nos deixarmos arrastar pelo hábito e pelas ilusões que este introduz no nosso julgamento. A ilusão está em centrarmo-nos no carácter desportivo e competitivo representado, a corrida de cavalos e as apostas. O jockey pode, todavia, ser olhado como uma figura metafísica, como uma metáfora do viandante. Não é a competição que está em jogo, mas a harmonização entre o homem e o cavalo, entre razão e natureza, entre aquele que peregrina e o veículo da peregrinação. Não se trata de dominar o cavalo, de lhe impor um caminho, mas de se fundir com ele, durante a viagem, de serem apenas um. Como se, pela arte de cavalgar, a separação que cinde o homem em dois fosse cerzida e, naqueles instantes, o homem tivesse um vislumbre da sua verdadeira natureza.

4 comentários:

  1. Se fosse um centauro, esta imagem de fusão seria perfeita, mas um jockey, é um ser exterior ao animal, que o força a correr para obter ele humano, uma vantagem.
    É mais simbólica da forma como a humanidade olhou a natureza, de uma forma sobranceira e a impor caminhos que não lhe estariam no adn.

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    1. Em princípio sim, mas o centauro é a expressão de um desejo, o jockey é a realização de uma arte.

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  2. É de facto quando essa simbiose se verifica, quando se estabelece a harmonia e, porque não: a cumplicidade, numa base de respeito e de confiança recíprocos, entre o ser racional e o animal, que se atinge a máxima performance.
    Tudo isto alinhado com códigos de leis físicas, morais e deontológicas.
    Desde que o Homem domesticou os primeiros cavalos selvagens, percebeu que os mesmos lhe devem a docilidade e obediência que o respeito lhe podem garantir.

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