Ferdinand Hodler - Alma decepcionada (1891)
A decepção, qualquer que ela seja, é sempre o sinal e a prova de uma ilusão. Se o mundo, o outro ou mesmo o próprio eu são motivos de decepção, isso significa que uma fantasia se apoderou de nós e perverteu a avaliação. Na base dessa perversão está sempre a maquinação da vontade egoísta que, desejando apoderar-se da realidade e sentindo-se impotente para tal, tece uma ficção que confirme o seu desejo. Quando a realidade fala, a trama rompe-se e o espírito vê-se confrontado com a decepção. Esta impõe, então, uma escolha: fazer-se de vítima, de alma decepcionada, ou aceitar o caminho da pobreza de espírito, que não é outra coisa senão o contínuo exercício da humildade perante a realidade e a verdade.
Doloroso mas talvez seja verdadeiro.
ResponderEliminarSer pessoa é tecer ficções que ajudem a desenovelar a realidade, percepcionar a realidade é construir uma ficção, estilhaça-la é regressar uma e outra vez ao "Era uma vez..."
... ou abandonar a crença na necessidade das narrativas.
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ResponderEliminarTem piada que ainda à um par de meses travei estas considerações com um superior hierárquico que devido a um mal-entendido, referiu-me naquele tom de vítima, tê-lo dececionado; que nunca esperaria uma atitude semelhante, vinda de mim.
Antes de lhe demonstrar que estava a incorrer no erro de olhar somente a árvore e não se aperceber da floresta, expliquei-lhe que se alguém se dececiona com a atitude ou o comportamento de outro, é porque seguramente construí mal a sua imagem. Portanto, um erro da total responsabilidade do construtor e não do edifício.
Pior, foi a sua reação, ao perceber que se tinha enganado em ambas as situações. Engano evitável, se se tivesse importado em indagar antes de julgar.
A decepção tem sempre a raiz numa avaliação errónea, a uma precipitação do juízo. É aqui que a pobreza de espírito tem uma função terapêutica, pois torno o julgador humilde e essa humildade pode evitar a precipitação.
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