terça-feira, 23 de abril de 2013

O combate enigmático

Arshile Gorky - Combate enigmático (1937)

Não há combate mais enigmático do que aquele que alguém trava consigo mesmo. Não quer ele melhorar e ultrapassar-se, ser outro e ter novas virtudes e reconhecidos méritos? Onde reside o enigma? Assim pergunta a pessoa sensata, tão habituada a reduzir tudo à dimensão da sua sensatez. Mas o enigma não se oferece aos que persistem na sensatez. Aquele que combate o enigmático combate consigo mesmo está preso numa névoa obscura, a névoa da sensatez. É dela que ele se afasta combatendo, mas não sabe ainda que o enigma do combate reside na sua inutilidade. Se o véu, um dia e inesperadamente, se rasgar, descobrirá que não lhe resta aceitar-se naquilo que é. Nessa hora, a insensatez triunfou e ele está pronto para o caminho da sabedoria.

2 comentários:

  1. E o mal dentro de nós? Não o conseguiremos combater nunca? Como se faz o caminho da santidade sem que travemos esse combate interior? Prefiro pensar (se bem que não saiba se é mesmo assim...) que a sabedoria começa no reconhecimento e na aceitação do que somos, mais do que na inevitabilidade do que somos.
    (Sou visitante recente mas assíduo. Obrigado pelos desafios.)

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    1. Estou de acordo com o que diz: "a sabedoria começa no reconhecimento e na aceitação do que somos". Esta aceitação significa reconhecimento inclusive do mal em nós. Este reconhecimento não significa pura passividade perante o negativo, mas metanóia, conversão, alteração radical de ponto de vista e de forma de agir.

      Muito obrigado pelas sua visitas e pelo comentário.

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