quarta-feira, 24 de abril de 2013

Poemas do Viandante (411)


411. A tília perdida no caminho

A tília perdida no caminho
abre-se solitária e austera ao viandante.
Promessa de floresta nos campos,
as folhas tintas de sombra,
luz da tarde a despontar ao longe.

Sou um velho animal ferido
e sob os teus ramos contei os dias,
tracei mapas de urze e abandono,
esperando, transfigurado, um sopro
que tocasse no íntimo da folhagem.

O silêncio de Deus caiu sobre ti
e, se um relâmpago cruzava os céus,
era apenas o eterno desamparo
de uma nuvem que se acolhia
no húmido regaço de outra.

Olho os teus ramos tocados de vida
e oiço o cântico do anjos.
Palavras feridas cintilam-te nas raízes
e rasgam um caminho de solidão.
Nele, tranquilo, aguardo por ti.

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