domingo, 21 de abril de 2013

Orfandades

Giovanni Segantini - Gli orfani (1886)

Talvez o sentimento de orfandade ultrapasse em muito a experiência da perda parental. Por terrível que seja a orfandade biológica e familar, ela inscreve-se - porventura, ganha sentido - num outro sentimento de orfandade anterior e consitutivo da nossa experiência do mundo. Talvez vir ao mundo seja já sentido como orfandade, como a perda de algo decisivo e fundamental. E esse sentimento de perda acompanha o homem ao longo da vida, como se fosse um sinal para que ele tome consciência daquilo que perdeu. De certa maneira, a tematização da derrelicção em Heidegger é uma aproximação a essa orfandade originária. Só que esta não é o sentimento de um puro abandono no mundo de um ser para a morte, mas o vestígio que desencadeia a reminiscência e põe o homem a caminho do que perdeu.

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