Tornar-me um grão de areia, um nada, um espaço aberto e vazio, um espaço onde o que vem de fora e o que vem de dentro circulam sem restrições. Somos nós que afastamos Deus do mundo ao encerrarmos a débil fronteira que cada um é. Quanto mais cerrada for, maior a separação. Medito, por vezes, nas palavras heideggerianas sobre o afastamento de Deus. Mas Deus não se afastou. Está onde sempre esteve, no íntimo de cada um. O Homem é o sinal de Deus no mundo, mas se cada um dos homens fecha o sinal que é, um espectador distante pensará que Deus abandonou o mundo à sua sorte. A verdade, porém, é que o jardineiro esqueceu a sua missão e concentra agora tudo em si. O mundo que era para ele é agora um mundo que é seu, um mundo reduzido à mera propriedade e ao arbítrio do suposto proprietário. Mas se o proprietário se abandonar, se se abrir como espaço, Deus e o mundo reatarão de imediato a ligação e a sensação de derrelicção perderá o sentido.
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