Luto contra a inércia e a indolência. Sento-me e obrigo-me a escrever e a trabalhar. O corpo, porém, é arrastado por um espírito em devaneio e por uma sombra nebulosa que parece cair sobre o cérebro e invadir os braços e o peito. Há um desfalecimento da vontade, mas este desfalecer é tão físico que quase o posso tocar. Talvez agora perceba por que motivo a preguiça é um pecado mortal. Nela habita a morte da vontade, de qualquer vontade, boa ou má. Mas, se olho com mais atenção, surpreende-me que ela seja considerada um pecado, como uma má escolha do meu livre-arbítrio. Eu não quero a preguiça, a indolência, a inércia da vontade. Apenas as sofro e sofro dolorosamente como se me atingissem no mais fundo do meu ser e me destruíssem, lentamente e com determinação. Por vezes, a quantidade de força para vencer a inércia é tão grande que me desgasto só na mobilização da vontade. Na base da preguiça existe uma desordem no ser, como se os elementos estivessem desestruturados e para conduzir a vontade à acção fosse necessário um árduo trabalho de reconstrução. Ao fim de tantos anos, sei que sozinho jamais conseguirei triunfar sobre este desarranjo estrutural. Mas será que sei abrir-me àquilo que ainda há de saudável no fundo do meu ser? Sim, pois apesar das contínuas derrotas de uma vontade frágil, nunca, até hoje, deixei de ter esperança de que as coisas acabariam por ser de outra forma, embora não saiba como será essa outra forma.
A incógnita, o desconhecido, a incerteza, fazem parte do nosso destino.
ResponderEliminarA inércia é parte da nossa condição.