Muitos dizem que não se arrependem de nada do que fizeram. Mas como poderei ser assim e proclamar ao mundo um orgulhoso não arrependimento? Há muitas coisas que não faria efectivamente e ao pensar nelas sinto uma vergonha íntima de as ter praticado. É a essa vergonha íntima a que se poderá chamar remorsos. O curioso, porém, é que essas coisas nunca como hoje chocaram tanto com a minha consciência. Olho para a minha vida e uma multidão de actos, pensamentos, palavras e omissões acusa-me e deixa-me perplexo perante a imagem que de mim faço. Começo a perceber que essas pequenas e grandes inclinações me levaram a um afastamento do absoluto, afastamento esse que fui justificando com razões, como se a razão existisse para justificar o mal que praticamos ou para legitimar a boa consciência. Mas saberei arrepender-me efectivamente? E o que significará esse arrependimento?
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