Edouard
Boubat, France, 1977
Foi lenta a metamorfose. As coisas mais surpreendentes acabam por
parecer banais se o tempo nos habituar a elas. Contrariamente ao hábito, ela
abriu a janela. O facto, por inusitado, provou comentários. Também muito notado
foi o caso de, passados dias, aparecer no parapeito da janela um gato. Demorou
mais de meio ano para que ela, naquela altura ainda muito bela, surgir na
janela. Foi o alvoroço. Depois, tornou-se rotina. Passado um ano, nem ela nem o
gato saíram mais daquele lugar. Murmurou-se, mas o rumor depressa acabou.
Habituamo-nos a tudo e nem sequer foi problemática a descoberta que o
único ser vivo era, apesar de cortado, o ramo preso nas mãos dela. Floresce uma
vez por ano.