Man Ray, Suzy Solidor, 1929
Foi assim mesmo que a vi naquele dia, em plena rua. Despida e
com as mãos a taparem os seios. Nunca até aí a sua conduta deixara sequer
suspeitar algum traço, mínimo que fosse, de irracionalidade. Era cordata e em
todos os seus gestos e palavras havia medida. Parecia a perfeita realização do
aforismo grego nada em excesso. O que se terá passado para que saísse de casa
daquele modo, nunca o soube. Vivia sozinha e nunca dei por que tivesse visitas,
a não ser de quando em vez a irmã. A única coisa que sei foram as suas palavras
antes de a levarem: Passa tão depressa. Ajudem-me. Está descontrolado,
descontrolado, cada vez mais rápido e eu tão cansada, tão cansada... o tempo, o
tempo...
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