domingo, 17 de fevereiro de 2019

Impossibilidade

Clarence H. White, Evening Interior, ca. 1899

Os boatos eram múltiplos. Havia quem falasse numa estranha doença que lhe roubara a beleza. Outros insinuavam que teria um amante secreto e que este a abandonara. Uma versão que chegou a estar em voga dizia que antes de vir para aqui tivera um filho, o entregara ao cuidado de uma ama e ele teria morrido. Um dia, em que aceitou, para surpresa minha, receber-me, confidenciou que estava ao corrente do que se dizia, mas que a sua beleza nunca a interessara. Que não, que nunca tivera um filho ou um amante. Era virgem e continuaria sê-lo, agora que decidira encerrar-se naquela casa. Disse-o sem hesitação. Depois, pediu com delicadeza que saísse e, de súbito, descobri que tinha o coração destroçado. Nunca um amor foi tão impossível.

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