John Marin - Landscape, Mountains (1918)
374. É TÃO TARDE PARA ANOITECER NA FLORESTA
É tão tarde
para anoitecer na floresta,
os animais
recolheram-se na funda toca
e o teu
coração pulsa receoso do que não vês.
Nada há para
temer, porém. Somos os amigos
do
invisível, dele esperamos a palavra,
o gesto
amplo que indica o caminho,
os hinos que
escutaremos à chegada.
Despe-te e
deixa o teu corpo no círculo aberto
ao meu
olhar, na esplanada onde os sentidos
te convocam
para a grande dança da noite.
Ainda não
somos inteiros sob o luar,
só agora
damos os primeiros passos na montanha,
mas as
minhas mãos erguem-se para ti
e esperam
vazias o milagre da tua pele.
O tremor que
te toca vem das coisas que passam,
do frémito com
que se entregam ao devir
e entram no
esquecimento que o tempo traz.
São sempre
assim os prelúdios, marcados
pela fugaz
hesitação, a dúvida cintilante,
pois para nós,
mortais, esse é o caminho
que pela
floresta ao cume da montanha conduz.
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