segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Poemas do Viandante (371)

Alfredo García Revuelta - Ciudad (1985)

371. ENTARDECER É DESCOBRIR OS CAMINHOS DA FLORESTA

Entardecer é descobrir os caminhos da floresta,
a metáfora trazida pelo pensador para iluminar
a filosofia, essa outra metáfora da vida,
metamorfose do sangue em puro pensamento,
a esperança irrenunciável ao direito de viver,
o consolo de ir e vir, a que chamaram liberdade.

A lado algum conduzem os caminhos na floresta,
mas os homens sabem neles encontrar a rota,
e navegam sob o império das estrelas
ou o rumor do vento na ramagem das árvores.
Ir a lado nenhum é o teu destino de viajante,
preso no luminoso olival que te liga à viagem.

Ainda não chegou a hora do frio invernoso,
mas os velhos lagares de azeite trabalham,
exercício clandestino trazido do mediterrâneo,
a seiva da terra que ilumina os caminhos.
Os olivais vindos do sul e os bosques do norte
são chão para os teus passos de citadino.

Uma canção desponta num quarteirão longínquo.
A cidade acorda para a tempestade do dia,
para a ventura do puro caminhar para sítio algum.
A voz rouca e amarga traz um uivo selvagem
e entre o betão afivelado das grandes construções
descubro o eco do teu nome esmagado na floresta.

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